Quem quer tacacá? 

Foto do Instituto Paulo Martins

Quando a Joelma quer tomar um tacacá, ela vai Voando pro Pará, rodopiando a cabeleira no seu calipso frenético de salto alto. Já Luis Gonzaga fez um baião delicioso com a receita do prato típico no disco Aboios e Vaquejadas, de 1956: “Tá aqui tucupi, tem mais o jambu, também camarão, quem quer tacacá?”.  Mas e nós? Quando bate aquela vontade de beber tacacá, aonde vamos?

Aqui preparei uma rota de lugares em São Paulo e no Rio de Janeiro para verdadeiras experiências com esse exótico caldo, escolhidas tanto pela autenticidade quanto pela originalidade das propostas. Mas preste atenção: antes de prová-lo ou sair por aí imitando a loira, é preciso se inteirar do assunto — o tacacá é rico em sabores e um tanto mais em história e cultura.

Foto do Instituto Paulo Martins

O tacacá está ligado às tradições alimentares dos povos indígenas brasileiros habitantes da região amazônica e o seu principal ingrediente é ela, nossa querida mandioca. É da mandioca que se obtém o tucupi, o líquido amarelo resultante da prensagem da raiz, e a goma de tapioca — o amido fornecido pela mandioca é que faz a goma. É muito importante que se valorize o processo, nada simples ou fácil, que preserva a tradição ancestral de preparo cem por cento artesanal. Depois do esforço e paciência dedicados à feitura do tucupi, a montagem do prato, em cada passo, lhe confere o sabor singular derivado dos demais itens: o camarão seco e o jambu, as famosas folhas verdes que têm o poder de entorpecer a língua e a boca, causando estranheza e fascínio. Primeiro o tucupi, depois a goma, então o jambu e o camarão. Aí o comensal que lute para eleger o tempero de seu gosto: cada tacacazeira (pessoa ou o local — barraca, casa — que prepara o tacacá) faz a sua magia temperando com itens a seu gosto o próprio tucupi, para depois acrescentar esse caldo temperado ao tacacá. No final, pode ser que tenha uma pimentinha no balcão para complementar o prato. Fique à vontade para escolher o seu tacacá querido. 

Foto do Instituto Paulo Martins

Os amazônidas costumam consumir o tacacá não como prato principal, mas como um tira-gosto a qualquer hora do dia, em pequenas cuias com uma base de palha para não queimar os dedos — o negócio é quente, viu? Com tantas curiosidades e lendas ligadas a esse alimento, aí tem mais uma, um verdadeiro paradoxo: o tacacá é uma bebida que se come e um caldo quente que refresca...  

Foto do Instituto Paulo Martins

As tacacazeiras se tornaram atração nas ruas das cidades da região e inclusive são tema de obras de diversos artistas, com destaque para a paraense Antonieta Santos-Feio (1897-1980). As mulheres que preparam o tacacá estão retratadas em uma série de óleos sobre telas. Uma de suas imagens poéticas de tacacazeiras de 1937 faz parte do acervo do Museu de Arte de Belém (PA).

Thiago Castanho é o cozinheiro que representa, traduz e transporta a cultura e a comida do Norte para além-fronteiras, chef dos Remansos na cidade e autor do saboroso Cozinha de Origem (Publifolha, 2014). Ele costuma dizer que o tacacá tem tudo o que um prato quer ter: “Acidez e doçura do tucupi, amido da sustança da goma, vegetal do jambu, proteína do camarão e ainda duas técnicas diferentes para lidar com a mandioca”. 

Segundo Câmara Cascudo, em História da Alimentação no Brasil (1967), o tacacá é um alimento derivado de uma sopa que fazia parte dos hábitos alimentares dos índios do Pará. É facilmente encontrado nos estados do Norte, mas foi no Pará que fincou a cuia. De lá, ele espalhou lenda e perfumes, encantando moradores e forasteiros até nos enfeitiçar com essa vontade doida de dançar, curtir, ficar de boa...  E não é que a Joelma tem razão? 

Foto de Lucas Terribili

RIO DE JANEIRO

Emporio Grão Pará – em Copacabana @emporiograopara

Tacacá do Norte – no Flamengo @tacaca_do_norte

O Cantinho do Pará – em Jacarepaguá @ocantinhodopará

SÃO PAULO 

Culinária Paraense – na Vila Carmosina @oparaensepoint

Casa Tucupi – na Vila Mariana @casatucupi

Banzeiro SP – no Itaim Bibi @banzeiro.oficial

BELÉM

Remanso do Peixe - @remansodopeixe 

Barraca da Fafá - @barracafafa

Tacacá da Dona Maria – Av. Nazaré, na altura do 902 – Nazaré, em Belém

Fontes:

Joelma – Voando pro Pará

https://open.spotify.com/intl-pt/track/0rywmdqLgV4ebmnzPvSqmP?si=5629307b3585490b 

Luiz Gonzaga – Tacacá

https://open.spotify.com/intl-pt/track/7Izcx0R4V9sOUxVB69XPH1?si=749a32aa179147b2 

Antonieta Santos-Feio – Museu de Arte de Belém - https://mabe.belem.pa.gov.br/ 

Livro Cozinha de origem, Thiago Castanho, Ed. Publifolha, 2014 – na Amazon.


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